terça-feira, 10 de janeiro de 2017

O MUAY THAI TEM DONO?


Os charlatões do esporte e os mistérios que travam o desenvolvimento da arte tailandesa no Brasil. O que é lenda e o que, de fato, é verdade sobre o Muay Thai no Brasil? Porque temos tantas vozes para falar em nome do esporte? Até que ponto estas organizações ajudam a divulgar e organizar nosso esporte?
É claro que qualquer esporte deve ser regulamentado, organizado e desenvolvido, este deveria ser o papel das confederações, federações e afins. Os estados ou o Governo Federal, através de suas secretarias e órgãos ligados ao esporte, repassariam uma quantidade de dinheiro para que essas “empresas” que cuidam do esporte possam  difundi-lo cada vez mais, com a realização de campeonatos, seminários e etc.
Note que falei em empresas propositalmente, pois o que era para ser uma organização sem fins lucrativos, com o passar dos anos virou uma disputa pelo comando do esporte no Brasil.
Façamos uma analogia com o futebol, todos sabem que a famigerada CBF, órgão que manda (e desmanda) no futebol brasileiro, ajuda muito pouco na promoção do nosso futebol. A reclamação de clubes e jogadores com o calendário apertado, campos em péssimo estado e outros problemas é recorrente. 
Em matéria publicada no site do jornal Estado de S. Paulo (nota de 2010) consta que a CBF conta hoje com patrocinadores como o Grupo Pão de Açúcar, Gilette, Nestlé e Nike. O que garante por ano a confederação uma renda de R$ 220 milhões de reais. Isso sem falar nos cachês milionários que a CBF recebe com os jogos da seleção pelo
mundo. Nenhuma confederação no Brasil se compara com a poderosa CBF, mas é só para ilustrar como este pode ser um bom negócio. Sem falar na vaidade pessoal, afinal, falar que é o comandante de uma modalidade esportiva em seu país certamente mexe com o ego de muitos.
Agora te pergunto, onde está esse dinheiro? Nos campos esburacados, nos estádios horríveis, na logística de se fazer campeonatos rentáveis?
Voltemos ao Muay Thai verde e amarelo, teoricamente, quanto mais pessoas cuidando do esporte, melhor, certo? Errado!
Na prática o que vemos é a total falta de diálogo de uma entidade com a outra. Vale ressaltar que todas elas dizem ter a chancela de órgãos internacionais.
Não julgo nenhuma delas, só acho estranho tanto cuidado com o esporte ser refletido em poucos campeonatos, pouca visibilidade, enfim, com um aparato  profissional  desses,  o  esporte  não  era para estar em outro patamar?
O Muay Thai é um só, mas na prática reinventaram a arte e a multiplicaram, assim todos saem ganhando. Quem perde é o praticante da modalidade que fica perdido com tanta informação. Não sabe ao certo quem está o guiando, se seus professores realmente sabem o que estão falando e  ensinando. O Muay Thai originário da Tailândia muitas vezes é confundido com outras artes.
Todos querem falar da arte marcial tailandesa, todos querem a mídia, os holofotes, e mais do que nunca hoje – com o sucesso do UFC – o Muay Thai está em alta.
E é aí que entram vários mestres e doutores sedentos por montar academias e federações para surfarem na onda do momento.
Vá atrás do histórico do seu professor, de quem ele é quem foi, o que ele já fez pela modalidade. Falsificam o Muay Thai, desvirtua-se a filosofia e negam a história do esporte aos alunos. O resultado são mestres falsos, alunos alienados e instituições que nada acrescentam ao Muay Thai.
Porque a cada dia que passa se multiplica o número de entidades que “cuidam” desses esportes? E começa no Brasil uma movimentação para saber de quem é a “paternidade” do nosso MMA. Há nos bastidores uma disputa para saber quem assumirá o comando da entidade que definirá os rumos do Mixed Martial Arts no país.

Outra coisa a se desvendar é o fato da quase total falta de informação a respeito do VERDADEIRO MuayThai nas academias. 
Digo da modalidade autêntica. Nada contra o K-1, Kickboxing, Full Contact, admiro todas elas. Toda arte marcial tem seu valor.
Mas fato é que poucas academias ensinam o que hoje é o Muay Thai.
Experimente trocar uma ideia com pessoas do meio sobre as tradições do esporte, a filosofia, ou algo assim, e se prepare para ouvir enrolações e informações deturpadas.
É como se você jogasse rugby e achasse que estava jogando futebol americano. São parecidos, porém tem enormes diferenças, que precisam e devem ser valorizadas e respeitadas.
Meu primeiro contato com o Muay Thai foi em 2003, comecei a treinar e a estudar mais a fundo o esporte e a cultura tailandesa. E descobri que muito do que ouvi de professores e pessoas ligadas ao esporte eram informações equivocadas.
E não vou cair na ignorância de falar que para ser um professor tem que obrigatoriamente conhecer e visitar o país de origem de um esporte, ou ser o mestre dos mestres, nada disso. Mas ao menos saber informações básicas da história do esporte, e um pouco, um pouquinho da história dele.
Durante minha peregrinação por academias da minha cidade vi gente dando aula com faixa amarrada na cintura, gente dando paulada na canela para “acostumar” a canela ao impacto, grãos mestres instantâneos e outras bizarrices.
Ao que parece muitas academias não ligam para isso, socializam a ideia de que o Muay thai, Karatê, Kickboxing, são a mesma coisa.
Toda e qualquer arte deve ser amplamente difundida, valorizada e respeitada. Nenhuma arte marcial é melhor que a outra, porém cada uma tem suas tradições e valores específicos. Não se pode vender Muay Thai e entregar Karatê ou vice versa.
Para aonde vai o Muay thai brasileiro, o que quer o Muay Thai brasileiro – O esporte serve apenas de ponte para o MMA? Basta saber meia dúzia de chutes e socos e pronto! Está formado um lutador de MMA que veio do Muay Thai?
Existe uma massificação do MMA às cegas, muitas vezes o aluno não tem noções básicas de Muay Thai, luta de solo, de disciplina... De nada! Culpa do professor, que esquece que o ambiente da academia é o espaço para se formar pessoas de caráter, difundir entre seus alunos (as) conceitos
como disciplina e respeito ao próximo, e depois, bem depois disso, se este aluno se enquadrar no perfil e contar com talento para lutar MMA, aí sim, inserí-lo  na  modalidade.  MMA  profissional  é  esporte sim! Mas de alto rendimento e para atletas de alto rendimento.
Voltando ao nosso Muay Thai: Sempre ficarei com a concepção de que o diálogo entre partes discordantes é a melhor opção para se chegar a um denominador comum. Mas, com tantas entidades, vozes e poderes, esse denominador comum não seja, de fato, o que alguns querem.


Por Lucas Nasser
Jornalista. 

OBS: MATÉRIA RETIRADA DA REVISTA MUAY THAI EM FOCO N° 05.

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